XVIII EDIÇÃO DO PROGRAMA
MUNICIPAL DE FOMENTO À DANÇA
DEVOLUTIVA PÚBLICA
(Carta aberta à
comunidade da Dança da cidade de São Paulo)
A
comissão de seleção do XVIII Edital de Fomento à Dança da Secretaria Municipal
de Cultura, composta por Marisa Lambert (Presidente), Mônica Bammann, Jussara Miller, Kleber Lourenço, Ângela
Nolf, Sayonara Pereira e Vanessa Macedo, vem a público compartilhar seu olhar sobre o panorama geral construído
pelos projetos inscritos nessa edição e esclarecer as diretrizes avaliativas
que orientaram o processo de apreciação das 46 propostas recebidas, com o
intuito de dar um retorno à comunidade da dança e propiciar uma reflexão sobre
questões que abrangem o contexto deste edital.
Lembramos
inicialmente que o recurso total para este edital foi de R$ 6.789.343,69 para gastos relativos aos projetos no ano
corrente e o valor máximo
por projeto, que podem formatar-se em até 24 meses (dois anos), foi de R$ 734.226,82. No conjunto dos projetos:
- 21 projetos propuseram tempo de execução de 18 meses ou
mais;
- 13 projetos, entre 11 e 17 meses;
- 11 projetos com até 10 meses de
execução.
Apontamentos sobre os projetos:
Considerando-se
as edições do Fomento em perspectiva, a comissão identificou um patamar
qualitativo bastante positivo nos projetos apresentados, havendo na grande
maioria consistência entre a trajetória das Cias ou Núcleos e a pesquisa de
linguagem proposta, além da preocupação com uma apresentação clara e bem
ordenada dos conteúdos. O percurso de avaliação exigiu um refinamento de olhar, uma
discussão detalhada de todas as proposições e debate de suas questões.
Especialmente nessa XVIII
Edição, ressaltou-se a inscrição de vários projetos centrados na PESQUISA artística,
enfocando processos de investigação, estudo ou verticalizações em linguagens de
interesse, objetivos ou parcerias de trabalho; não evidenciando,
necessariamente, a produção ou divulgação de trabalho artístico (um momento mais
de olhar para dentro, se reavaliar, amadurecer pesquisas e procedimentos).
Outra tendência foi projetos propondo revisões de trajetórias.
Notou-se que alguns projetos
ainda estão se ajustando à possibilidade de realização de suas ações dentro de
um período mais alongado de tempo, o que pontuou a necessidade de maior
reflexão sobre a relação plano de trabalho x tempo de execução, a fim de se equilibrar
melhor a quantidade/qualidade de proposições para um período determinado de
tempo, evitando a percepção do excesso ou escassez das ações elencadas, sejam
elas de pesquisa ou compartilhamento. Por outro lado, nessa edição também
foram identificados projetos que, mesmo com um menor tempo de duração, retrataram
coerência quanto a essa relação em questão.
No caso dos projetos que
enfocaram um produto cênico, destacou-se a importância do planejamento das
ações de pesquisa em dança estar afinado com as diretrizes compositivas e
dramatúrgicas descritas e/ou justificadas coerentemente.
Outra característica
percebida, em alguns casos, foi a ênfase em se conceituar teoricamente o
projeto, por vezes maior até do que de apresentar a potência da experiência
artística. (Isto
é, projetos que abordam fortes percursos teóricos de investigação, mas que nem
sempre deixam claro o entrecruzamento desses com o material cênico em pesquisa
ou desenvolvimento)
Ainda,
a necessidade de envolver uma multiplicidade de conceitos –
muitos assuntos, temas e discussões – fragilizou algumas propostas, ficando
perdida a essência do que realmente o projeto desejava mostrar.
Critérios avaliativos e
características das discussões da comissão:
A
comissão procurou, em suas avaliações, validar fundamentalmente as diretrizes estabelecidas
pela lei de Fomento, e reafirmadas pelo edital, que assinalam a relevância dos
projetos apresentarem uma proposta voltada para a pesquisa e produção de
linguagem em dança contemporânea. Apoiou-se na importância da
continuidade, em contraponto com propostas isoladas, e na existência de um viés claro (o
que não implica em linearidade) entre trajetória, pesquisa, projeto e cena
artística.
Em
discussões minuciosas envolvendo os sentidos artísticos e ético-políticos do
edital e dos projetos em análise, uma questão reincidente e significativa para
essa comissão foi o retorno que cada projeto concede à
cidade de São Paulo, por meio de proposições de diálogo, trocas e
compartilhamentos aventados pelos artistas. Como é pensado o envolvimento do
público espontâneo? Acolhe-se apenas o público da dança? (principalmente
considerando-se o número de projetos que focaram mais no desenvolvimento do próprio núcleo ou cia, na
pesquisa artística, como mencionado, como se dá o intercâmbio com a cidade?)
Considerando-se
a proposição de atividades como ateliês, aulas abertas, grupo de estudos,
encontros, entre outras, ou a produção de livros, encartes, DVDs, suportes
tecnológicos (blogs, sites, aplicativos), entre outros, prezou-se pela
necessidade dessas ações e elementos estarem com relação direta ao objetivo do
projeto, justificarem-se em uma rede interativa com a pesquisa artística.
Na
apreciação dos projetos, independente da matriz que define o ponto de partida
para a pesquisa e criação em dança (danças urbanas, populares ou étnicas),
debateu-se longamente sobre o caminho que essas proposições estão traçando na
interface com a dança contemporânea.
Questões referentes aos
orçamentos:
Observou-se,
por vezes, disparidades nas rubricas entre os membros da ficha de recursos
humanos, levantando a problemática da qualificação
profissional e a valorização do trabalho de cada artista / administrador /
técnico.
Percebe-se
que existem funções, a exemplo das técnicas, que já possuem um valor de mercado
mais definido. No entanto, para outras funções, em que os recursos não são tão
claros, existem muitas variáveis. Qual será o valor salarial médio de um
coreógrafo, diretor, produtor, quando falamos de uma verba pública, um apoio
financeiro que se volta para o coletivo?
Foi
recorrente, no processo de revisão dos orçamentos e na analise das adequações,
a discussão sobre a relação proposta entre valor total do projeto x tempo de
duração. Questionou-se a diminuição do período de execução (corte do
cronograma) como estratégia de readequação. Apontou-se a importância de uma
reflexão sobre como indicar as incoerências no orçamento
dos
projetos e sobre como os grupos repensam essas incoerências a partir das
porcentagens dos cortes (sejam eles gerais ou em rubricas especificas).
Como
o orçamento dialoga com um pensamento sobre o financiamento público e com a
dança em relação a cidade de São Paulo?
Por fim, a Comissão destaca que em
muitos casos a falta de outros financiamentos públicos é visível, o que deve
ser continuamente problematizado com a classe artística.
São Paulo, 14 de Maio
de 2015.
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