A presente devolutiva busca apresentar
um recorte das discussões e reflexões que emergiram na experiência de avaliação
desta comissão.
A continuidade da Lei de
Fomento à Dança tem determinado transformações no cenário cultural da cidade de
São Paulo. Decorrente desta há maior estabilidade na manutenção de grupos de
dança e maior difusão desta arte através de apresentações, workshops, oficinas,
publicações e outras ações artísticas destinados ao público da cidade de São
Paulo.
Pela ação continuada se faz
presente um desenvolvimento na qualidade dos projetos apresentados e sua
correspondente realização no fazer artístico. Este fazer que é um ofício de
artesanias poéticas.
Pela primeira vez em 8 anos
da implantação do Programa, por conta da aprovação do PL 236/2012, os projetos
passaram a ter a possibilidade de ter um tempo mais estendido de duração para
até 24 meses. Esta nova conjuntura, que a médio prazo deverá gerar evoluções no
contexto do próprio programa, mereceu uma atenção especial por parte da
Comissão, por promover novas configurações do conjunto de projetos
apresentados.
Ao todo foram 40 inscritos
(número relativamente baixo em relação à edição anterior que recebeu 54 projetos),
dos quais cerca de 30 propuseram planos de trabalho iguais ou superiores a 12
meses, e desses 15 entre 18 e 24 meses. Vale ressaltar que os 24 meses existem
como possibilidade, mas quem decide o tempo organicamente compreendido entre
modo de trabalho e ações propostas é o próprio grupo. Assim, a Comissão teve
como ponto de partida a análise e discussão de cada projeto proposto, para
então discutir as projeções orçamentárias.
Ao longo deste processo, pudemos
perceber alguns aspectos que estiveram presentes na avaliação:
__Sobre os projetos
avaliados, ainda se coloca a questão sobre o que é pesquisa e como apresentar
um projeto de pesquisa em
dança. Há , às vezes, um recorte acadêmico, a apresentação de
um pensar sobre temas que não necessariamente se conectam com um fazer, um
corporificar conceitos no espaço da cena.
Algo como uma separação corpo/mente do pensamento cartesiano. Há também
outros projetos que não apresentam os procedimentos que caracterizam a pesquisa
de movimento, esta fundamental para a produção de linguagens de dança
contemporânea.
Existem ainda aqueles
projetos cujo eixo principal está em outro lugar que não a dança, outras
referências que indicam outras abordagens artísticas. Não que a
transdiciplinaridade na arte seja objeto de questionamento, mas a questão do
eixo, do ponto de partida, o corpo na dança deve ficar mais evidente.
Consideramos a importância dos artistas especificarem no projeto o recorte da
pesquisa que está em foco no momento. A descrição do desenvolvimento de uma pesquisa
continuada muitas vezes não esclarece qual a ação propriamente que o projeto
encaminhado ao fomento executará e quais são os objetivos e impactos desta
ação.
_Com a extensão do prazo de
execução para dois anos e a possibilidade de aumentar o orçamento
proporcionalmente, os orçamentos alcançaram um patamar muito maior, talvez pelo
desejo de produzir com maior qualidade e/ou de pensar em novas possibilidades
de ações. Devemos refletir, no entanto, se a necessidade dos recursos
orçamentários demandados dialogam de fato ao modo independente de produção.
Neste sentido indagamos: todas as ações propostas cabem de fato no fomento?
Seria possível buscar outras fontes de apoio para o que se produz? O fomento
pode servir de impulsionador para que uma companhia/artista ao atingir maior
estabilidade deixe de pertencer ao universo do programa?
__ Verifica-se que este
aumento no orçamento geral dos projetos se destina principalmente a itens de
produção muito mais que ao suporte aos bailarinos. Que também estes orçamentos
muitas vezes se destinam a impressão de livros e outros acervos de imagem, que
poderiam talvez buscar outras fontes de apoio para a sua realização quando
ultrapassam a capacidade do próprio Fomento. Poderíamos, então, colocar em
discussão sobre as finalidades do fomento. O programa se destina a uma prática
de pesquisa continuada aberta para a apreciação de um público sempre carente de
ações reflexivas ou de um acervo para a memória destas ações? Em que medida
essas duas linhas dialogam?
_ Outro aspecto observado nesta edição,
bastante discutido, diz respeito ao acúmulo de funções na ficha técnica. Um
determinado artista pode apresentar variadas funções que devem sim ser
remuneradas adequadamente, mas ao mesmo tempo a clareza nas ações acumuladas precisa
se fazer presente, não omitindo definições na ficha técnica bem como no plano
de ações. Por tratar-se de um fator recorrente nos orçamentos apresentados
nesta edição, esta é uma questão que deveria ser dada uma maior atenção pelos
próprios artistas nos próximos projetos a serem apresentados ao Fomento à
Dança.
__ Uma importante questão que
permeou as discussões trata da relação da memória da dança da Cidade de São
Paulo. Como preservá-la? Como conservar acervos que envolvem vídeos, figurinos,
objetos de cena, e tantos outros registros que narram momentos fundamentais
para a história da cidade e dos fazedores da dança? Deixamos aqui manifestada
uma necessidade de se criar instrumentos para que um acervo sobre/da/para a
dança seja mantido e desenvolvido dentro da Secretaria Municipal de Cultura,
para preservar e divulgar a história pregressa e recente da dança em SP.
Esperamos que essas reflexões
possam contribuir para as próximas edições, tendo em vista este novo momento do
Programa.
São Paulo, 09 de Maio de
2014.
Maria Mommensohn (Presidente)
Gaby Imparato
Key Sawao
Jussara Miller
Mônica Bammann
Paula Petreca
Robson Lourenço
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